terça-feira, 20 de dezembro de 2011

20.



Do amor ideal e dos amores possíveis


Maria Eloísa, depois de um ano de casada, largou do João Carlos. Seis meses depois, quando estive em São Paulo, ela me apresentou o seu terceiro namorado pós-divórcio.
“Estou procurando alguém que seja ideal para mim.” Confidenciou-me, como quem se justificava.
“Ora, Eloísa”, respondi, na maior serenidade estoica, e armado com o realismo aristotélico, “se você encontrar alguém que seja ideal para você, então esse alguém não poderá ser seu; porque, senão, será alguém real. E você deve saber que alguém real nunca é o que a gente quer que ele, ou ela, realmente seja”.
Eloísa ficou confusa, fez gestos de quem estava tonta, e riu da brincadeira. Depois esboçou um chorinho, como se a ficha tivesse caído.
“É foda!, né, Patativa? Parece que a gente nunca acerta essa porra!, ou, quando acerta, não sabe que acertou. E a gente vai vivendo assim, nessa eterna insatisfação.”
“C’est la vie, mon petit.” Disse-lhe, enquanto ela me abraçava, soluçando. “E é bom que seja assim, para que a gente aprenda a respeitar os amores possíveis.” Não lembro se disse mais alguma coisa. 
Eloísa, semana passada, enviou-me um convite para o seu novo casamento. O nome do homem que vem impresso, nele, não é daquele a quem fui apresentado. No envelope branco, enfeitado de maritacas, está escrito, com a letra dela: “Meu lindo!, mais vale um pássaro na mão do que dois na contramão; não é?”
Melhor definição de “amor possível”, impossível.
A vida quer viver, e a Vontade da vida impera sobre tudo.


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