quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

16.



Do modo com que se trata o amado, a amada


Na crônicaAnálises”, no livro Filandras (Record, 2002), Adélia Prado conta a história de Diolinda, “por quem João Jeremias foi a vida inteira apaixonado”. Ah!, e quem não sabe? No papel, tudo cabe; ou, como no provérbio português: “Papel aceita tudo.” Devidamente reafirmado por outro, popular entre os ingleses: “A mocidade e a folha de papel em branco guardam qualquer impressão.” A verdade, porém, pode andar bem longe, e de modo dissimulado. 
“João Jeremias foi a vida inteira apaixonado [por Diolinda]?” Não foi, não! Realizada a paixão, Jeremias não sabia como tratar a mulher que, desde cedo, soube se impor sobre a situação conjugal, assumindo uma posição antes ignorada por ele. Sabedora do amor de Jeremias, e da sua frouxidão, Diolinda se aproveitava: tudo era chato, tudo era feio, tudo era ruim; tudo o que ele fazia, com a mais cândida e melhor das intenções era, para ela, nada.
Uma vez, quando Jeremias, atendendo ao desejo da mulherque disse preferir que ele a chamasse de Nair, Maria Nair –, chamou-a de Nairinha, assim, no carinho diminutivozinho, não deu certo: Diolinda “ficou enfurecida, pondo em ridículo a paixão dele, que se recolheu a nunca mais ousou...”
Por fim, a Adélia, que bem conhece a alma feminina, dá uns conselhos aos Jeremias que existem por aí, aos montões:
Mulher, mansa ou brava, quer marido firme. Marido tem que proibir alguma coisa, nem que seja do tipo: ‘quero minha correia dependurada neste prego e ninguém me tire ela daqui’. Porque senão as mulheres ficam muito infelizes e começam a ter maus pensamentos de querer ficar viúvas, de sumir no mundo, de dar os filhos pra avó criar, essas coisas. Natureza de mulher é de obedecer, de admirar, de servir, natureza de formiga, de abelha operária e gata no borralho, senão, meu Deus, não sobra espaço pra ela virar Cinderela”. Palavras da Adélia. 


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