sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

13.


Da sutileza das incógnitas, e do que elas fazem  


Ela estava tão linda! Mais do que era, normalmente. Como era linda! Como ele era abençoado! Jantavam, enquanto a delicada Isobel Campbell cantava Let the good times begin. O mundo, apesar de tantas barbaridades, parecia oferecer, afinal, alguma beleza, alguma perfeição. Fazer amor com ela era como mergulhar num paraíso idílico: quente, doce... deliciosa sensação sem nome.
O tempo passou voando, e agora era hora de levá-la para casa.
No caminho, entre as centenas de veículos que entopem o Retão de Manaíra, ele notou que ela olhava para um cara que dirigia um Sedan prateado, que lhe sorria. Não que aquilo lhe incomodasse; não. Mas lhe incomodou vê-la disfarçar tão mal o, talvez, flerte despretensioso. Não disse nada. Algo dentro dele, porém, como uma taça de cristal que se quebra, quebrou-se. “Ah, Capitu!”, pensou, “por onde andam as tuas crias?” Como ele podia amá-la tanto, e ela, mesmo que por um instante, não fosse somente sua?
Ela não entendeu quando, dias depois, ele disse que ligava, e nunca mais ligou, nem aceitou suas ligações.
À semelhança do atormentado Bentinho, ele não tinha e nunca teria qualquer certeza de alguma traição, de qualquer espécie. Tinha, porém, absoluta certeza da sua própria dúvida, que crescia como um monstro, alimentando-se da sua paz – e onde há uma dúvida assim, tudo dança suspenso no ar, diluindo-se ao mais leve sopro do mais leve vento erradio.
“Você deveria ter conversado com ela”, alguém lhe disse.
“E o que eu diria?”, respondeu.
“É porque você não a amava, realmente!”
“Eu tinha certeza que sim.”
“E agora?”
“Agora eu não tenho mais certeza sobre nada.”
O silêncio, às vezes, tem o peso das montanhas, e a convulsão das nuvens tempestuosas. E é por ele que os amores, às vezes, se desfazem: ao sutil toque do acaso, ou das nossas estupidezes.


LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...