sábado, 10 de dezembro de 2011

14.


Do sentir, e do sentimento


Laís olhou para Alice, dizendo: “I will miss Youuu...!” Assim mesmo, esticando o “u” no final, enquanto a abraçava. Alice estava chorosa, e o beijo de Laís era doce e triste, porque era beijo de adeus, de “até... quem sabe?”
- O que tu quer dizer com “I will miss You!”?
- Tu não sabe?
- Saber, eu sei. Quero saber é o que há por trás do sentir, do dizer o que se sente. Porque uma coisa é a fala, e outra o sentido.
- Sentirei sua falta - Laís repetiu, olhando fundo nos olhos de Alice, separando palavra por palavra. - E é isso; e é muito, e é tudo. Sem mistérios; sem análises metalinguísticas; sem sentidos obscuros, nem entrelinhas. Porque sinto falta do que amo. E amo muitas coisas; embora você não seja uma... coisa. Você sabe o que quero dizer, baby.
Alice, talvez emocionada, talvez disfarçando a pequenina emoção, disse, jocosa:
- Pois eu não sentirei falta nenhuma de mim mesma.
Uma semana depois, estava em Alagoas, morando com os pais. E as duas, depois de vários telefonemas, de vários recados pela internet, foram inverno e outono, porto e navio, distância e esquecimento. Não saberiam dizer a última vez que um “oi, como vai?”.
            * * * * *
O amor é um modo de dizer a Vontade, encobrindo-a. Sim, porque a Vontade precisa do olhar – mesmo o interior, reflexo do exterior, gravado na memória –, que é o sentido mais aguçado do Desejo. Pouca valia tem a faca e o queijo, sem a fome; como diz Adélia Prado, em O coração disparado (1978): “Não quero faca nem queijo. Quero a fome”. E é por essa fome que comemos o Mundo, e as coisas do Mundo...  


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