domingo, 27 de novembro de 2011

9.



Da perfeição 



Tito conheceu Eleonora durante o show de lançamento do primeiro EP da Star 61, banda de um amigo seu, no Parahíba Café. Era uma moça linda, professora de inglês na Wizard da Epitácio. Conversa vai, conversa vem, trocaram telefones para novo encontro. Uma semana depois, dividiam uma cerveja, na panorâmica do Mag Shopping.
– Então, Helê... Posso te chamar assim, né?
– Sim!, sim! Claro!
– Você vai sempre ao Parahíba Café?
– Olhe!, muito raramente, viu? Somente quando amigas vão e me convidam. E tu?
– Até que tenho ido bastante nesses últimos dias. Mas também não sou tão frequente. Vou mais quando há alguma atração à qual eu esteja, de certo modo, ligado; por amizade ou ofício.
Tito trabalhava na loja de fotografias do seu pai. Fotógrafo amador e músico, também produzia pequeninos shows, e sonhava em ser desenhista de história em quadrinhos.
– Na verdade – continuou ele –, quem faz os lugares são as pessoas; não é? Às vezes os lugares são bem legaiszinhos, mas se sua companhia não for, o ambiente acaba ficando chato. E, às vezes, o lugar é chaaato; mas, se você estiver bem acompanhado, as coisas se resolvem numa boa; não é?
Ela riu com o seu ar professoral, seguro, e assentiu com a cabeça.
– Concordo plenamente – disse.
Ele, procurando o que conversar, porque ainda não a conhecia bem e, naturalmente, não tinha tanto o que dizer, ou perguntar – e, sabia, disso dependeria o sucesso do encontro, e a possibilidade de mais outro, se fosse o caso –, arriscou:
– Mas, então, Helê: que bandas você tem ouvido?
– Ah!, eu gosto de Zezé Di Camargo & Luciano, Aviões do Forró, Exaltasamba, Bruno & Marrone, Victor & Leo... “Percebo que o tempo já não passa, você diz que não tem graça amar assim...” – cantarolou o trechinho, bem desafinada –, essas coisas...
E riu, encabulada. Ele também, observando se mais alguém não tinha notado o número espontâneo da moça.  
– É mesmo?! Que interessante! – estava visivelmente decepcionado com os gostos musicais da moça.
De fato, ele andava por outro mundo, in the wave of alternative bands, such as Sonyc Youth, Yo la Tengo, Galaxie 500, The Velvet Underground, Stereolab, Belle & Sebastian, et cetera. Parecia-lhe impossível acreditar que alguém que gostasse de tais... “artistas”, pudesse ser, realmente, uma companhia agradável para algo mais sério, tipo um segundo encontro.
– Bom – ele disse, bebendo o último gole –, melhor a gente ir andando, né?
– Mas, já?! Aqui está tão legal; você não acha?
– Olhe, se João Pessoa fosse um cachorro, isso aqui seria a bunda do bicho.

* * * * *


Moral da história: não há encanto que resista por muito tempo aos detalhes individuais das nossas tolas fantasias de perfeição. Uma simples palavra, às vezes, tem a fúria dos furacões, a potência da Bomba H. No mais, é como diz o filósofo João Estevam: “Cada qual, é cada qual”.



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