quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O grande livro do amor


Livro 1



Em que são dados exemplos cotidianos do amor platônico-romântico, a fim de se destacar o trágico que impera sobre todas as relações afetivas, no Mundo. A dor, como na filosofia de Arthur Schopenhauer e na obra cinematográfica de Werner Herzog, é o motor de tais modelos que, nos Livros 2 e 3, como se verá mais adiante, serão aclarados. 



1.

Das amorosas opções

Etelvina amava Marcelo, a quem chamava de Marcelinho, “meu Marcelinho”. Mas, lástima do acaso!, surgiu Vicente – que a mulherada dizia ser umpoço de perdição de boniteza”. E Etelvina, que amava Marcelo, viu aquele amor todo voar para os olhos de Vicente, os cabelos de Vicente, a boca de Vicente, e tudo o mais que dizia respeito ao Vicente. Viva Vicente para presidente! 
........Pois você não sabe, Helena? 
........O amor é sempre assim: exagerado e espalhafatoso; grita nas vias públicas; envia torpedos e recados melosos pelo Orkut, pelo Twitter, pelo Facebook; é grudento e adocicado igual suco de mangaba, e doce de goiaba. O amor tem dessas macaquices: está num galho, fazendo caretas e comendo piolhos da cabeça do outro e achando tudo lindo e maravilhoso; daí, “de repente, não mais que de repente” – que nem no poema do Vinícius –, pula para outro galho que é mais verdoso, segundo o seu incerto e fogoso juízo. E “do riso faz-se o pranto. De repente, não mais que de repente”. 
........É por isso que o amor também vive acompanhado da dor; causa da sua constante inconstância. Vez por outra um galho se parte. O amor, cheio de si, pesadão, despenca galho abaixo, vai ao chão. viu um amor durar para sempre? Nunca! Somente nas histórias bestinhas que contam às crianças de sete oito anos: “... e os dois viveram felizes para sempre”. 
........Não, Helena! 
........O amor mesmo, na vida real, está em tudo, mas é cego e variável, variante. Sonha sempre com um galho mais verde que aquele em que se pendura; sonha sempre com um rosto que nunca muda, como se quisesse para si uma estátua que fosse viva. Mas, como secam as árvores, também o amor, que não gosta de pau seco, sonha com outros galhos, com outros rostos. Mas sempre haverá gente besta dizendo que amará para sempre aquele ou aquela que julga amar; e é por isso que surgem as tolas promessas de que nunca haverá de haver um galho mais verde e mais vistoso do que este que agora se tem – pois que o amante sempre pensa possuir o amor do seu objeto. E na sua felicidade temporal, deseja a eternidade. Nietzsche, por boca de Zaratustra, dizia que “todas as coisas acham-se encadeadas, entrelaçadas, enlaçadas pelo amor”, e que, inutilmente, dizemos ao sofrimento: “Passa [...]! Pois quer todo o prazer – eternidade”. Também o Manoel de Barros, poeta pantaneiro, numa tirada de mestre, afirma: “Duas coisas que não vão acabar nunca no mundo são: gente besta e pau seco”.  


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