O grande livro do amor
Livro 1
Em que são dados exemplos cotidianos do amor platônico-romântico, a fim de se destacar o trágico que impera sobre todas as relações afetivas, no Mundo. A dor, como na filosofia de Arthur Schopenhauer e na obra cinematográfica de Werner Herzog, é o motor de tais modelos que, nos Livros 2 e 3, como se verá mais adiante, serão aclarados.
1.
Das amorosas opções
Etelvina amava Marcelo, a quem chamava de Marcelinho, “meu Marcelinho”. Mas, lástima do acaso!, surgiu Vicente – que a mulherada dizia ser um “poço de perdição de boniteza”. E Etelvina, que amava Marcelo, viu aquele amor todo voar para os olhos de Vicente, os cabelos de Vicente, a boca de Vicente, e tudo o mais que dizia respeito ao Vicente. Viva Vicente para presidente!
........Pois vocênão sabe, Helena?
........Oamor é sempre assim: exagerado e espalhafatoso; grita nas vias públicas; envia torpedos e recados melosos pelo Orkut, pelo Twitter, pelo Facebook; é grudento e adocicado igual suco de mangaba , e doce de goiaba. O amor tem dessas macaquices : está num galho , fazendo caretas e comendo piolhos da cabeça do outro e achando tudo lindo e maravilhoso; daí, “de repente , não mais que de repente ” – que nem no poema do Vinícius –, pula para outro galho que é mais verdoso, segundo o seu incerto e fogoso juízo . E “do riso faz-se o pranto . De repente , não mais que de repente ”.
........É porisso que o amor também vive acompanhado da dor; causa da sua constante inconstância . Vez por outra um galho se parte. O amor , cheio de si , pesadão, despenca galho abaixo , vai ao chão . Já viu um amor durar para sempre ? Nunca ! Somente nas histórias bestinhas que contam às crianças de sete oito anos : “... e os dois viveram felizes para sempre ”.
........Não, Helena!
........O amor mesmo, navida real , está em tudo, mas é cego e variável, variante. Sonha sempre com um galho mais verde que aquele em que se pendura; sonha sempre com um rosto que nunca muda, como se quisesse para si uma estátua que fosse viva . Mas, como secam as árvores, também o amor , que não gosta de pau seco , sonha com outros galhos, com outros rostos. Mas sempre haverá gente besta dizendo que amará para sempre aquele ou aquela que julga amar ; e é por isso que surgem as tolas promessas de que nunca haverá de haver um galho mais verde e mais vistoso do que este que agora se tem – pois que o amante sempre pensa possuir o amor do seu objeto. E na sua felicidade temporal, deseja a eternidade. Nietzsche, por boca de Zaratustra, dizia que “todas as coisas acham-se encadeadas, entrelaçadas, enlaçadas pelo amor”, e que, inutilmente, dizemos ao sofrimento: “Passa [...]! Pois quer todo o prazer – eternidade”. Também o Manoel de Barros , poeta pantaneiro, numa tirada de mestre , afirma: “Duas coisas que não vão acabar nunca no mundo são : gente besta e pau seco ”.
........Pois você
........O
........É por
........Não, Helena!
........O amor mesmo, na