2.
Dos vinhos
De conformidade com o provérbio latino , in vino veritas, “a verdade está no vinho”. O mesmo é dito por Balzac, nos Esplendores e misérias das cortesãs : “Corentin chamou Derville de parte e disse-lhe: – In vino veritas! A verdade está debaixo das rolhas ”.
“Eu te amo , Maria Estela; sempre te amei!”
O povo amigo , igualmente alterado, desabou em assovios e aplausos de “arre! finalmente !”, e danou-se a repetir, com palmas desencontradas: “Beija! Beija! Beija!...”
“Levante daí, Carlos! Você está ridículo !”
E a festa , claro , não foi mais a mesma . É, in vino veritas, de um jeito ou de outro. Estava claro que Estela, se não estivesse sóbria, não falaria assim ao homem da sua vida ; o mesmo homem que , no dia seguinte , e nos dias subsequentes, passaria a evitá-la, como o Diabo à cruz . É que o Carlos Eduardo, além da vergonha do horroroso vexame , nutria agora uma crescente antipatia àquela que , de modo tão frio , o rejeitara.