quinta-feira, 3 de novembro de 2011

62.




Da originalidade inédita dos clichês




É fácil, bem fácil, cair nas repreendas do historiador paulista Sérgio Buarque de Holanda. Segundo ele, é frequente, à pseudo-intelectualidade brasileira, o alimentar-se das mais variadas e díspares doutrinas estrangeiras.* Daí, mais que nunca, o constante regurgitar de declarações, conclusões apressadas e convicções igualmente díspares, descartáveis, estilo zapping... e o resto é pastiche. Adaptar velhos discursos fundamentados sobre “verdades” subjetivo-individuais, igualmente velhas, e apresentá-los como coisa nova e original é, também, cair no clichê mais que gasto dos... clichês: colagens sobre colagens, embrulhadas no exibido rótulo de “pós-modernismo”. Pastiche! Pastiche. E para que eu mesmo não me demore a repetir o já dito, redigirei o incrível e inédito Livro das conclusões, em que provarei, por A + B, e com base em minha novíssima Filosofia da adequação, que todas as conclusões são coisas... desnecessárias.

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* E pergunto se, algum dia, sairemos do primeiro parágrafo de Raízes do Brasil (1936): “A tentativa de implantação da cultura européia em extenso território, dotado de condições naturais, senão adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em conseqüências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas idéias, e timbrando em manter tudo isso e, ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto do nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.”  


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