8.
Das juras de amor eterno, ou: Das palavras mais etéreas
Na novela , à mexicana, Cláudio Fernando beija Serena Alice e diz, com olhar de peixe morto :
“Oh , Serena!, como te amo ! Você nem faz ideia de como te desejo! Se eu pudesse, nunca me afastaria de você ; ficava para sempre colado ao seu corpo... assim ...”
E agora, numa tomada mais aberta, Cláudio Fernando beija Serena Alice novamente , apertando-a contra si , em ardente fúria, fogo e sofreguidão. Serena Alice, todavia , depois do beijo , ganha um ar de severidade , de desconforto , e se livra o mais depressa que pode dos braços fortes e peludíssimos de Cláudio Fernando.
“O que você tem, meu amor ? O que há de errado?” Cláudio Fernando pergunta , visivelmente confuso.
Serena Alice, pegando o vaso que repousa sobre o móvel , arremessa-o contra Cláudio Fernando, gritando, furiosa , com os olhos rasos d’água :
“Você diz isso a todas, seu infeliz mentiroso! Seu monstro ! Monnnstrooo! Como você pode, Cláudio Fernando?, como você pode ser assim tão ... tão imprestável ?! Oh, Deus! Como você pode ser assim tão, tão... oh?!...”
E, de supetão , sai da sala aos prantos , batendo a porta atrás de si .
Cláudio Fernando, num flashback em branco e preto, lembra-se da cena anterior , quando do seu encontro com Clarissa Maria... Ele havia repetido as mesmas palavras, como que decoradas frase à frase, letra à letra... palavra por palavra. Serena Alice, certamente , estaria por detrás de uma daquelas portas, de alguma daquelas cortinas.
“Ah!, porca miséria! Mas que droga, Cláudio Fernando!”, recrimina-se, vencido, caindo na poltrona, com a cabeça entre as mãos: “Por que você não teve mais cuidado ?”, pergunta-se.
A câmara se afasta e, sobre o cenário , a luz vai sumindo lentamente. Agora , sozinho , na penumbra , Cláudio Fernando está sozinho e, parece, muito decepcionado consigo mesmo. Escuridão .
O amor , meus caros , é uma novela mexicana.