sexta-feira, 25 de novembro de 2011

8.



Das juras de amor eterno, ou: Das palavras mais etéreas 



Na novela, à mexicana, Cláudio Fernando beija Serena Alice e diz, com olhar de peixe morto:
Oh, Serena!, como te amo! Você nem faz ideia de como te desejo! Se eu pudesse, nunca me afastaria de você; ficava para sempre colado ao seu corpo... assim...”
E agora, numa tomada mais aberta, Cláudio Fernando beija Serena Alice novamente, apertando-a contra si, em ardente fúria, fogo e sofreguidão. Serena Alice, todavia, depois do beijo, ganha um ar de severidade, de desconforto, e se livra o mais depressa que pode dos braços fortes e peludíssimos de Cláudio Fernando.
“O que você tem, meu amor? O que há de errado?” Cláudio Fernando pergunta, visivelmente confuso.
Serena Alice, pegando o vaso que repousa sobre o móvel, arremessa-o contra Cláudio Fernando, gritando, furiosa, com os olhos rasos d’água:
Você diz isso a todas, seu infeliz mentiroso! Seu monstro! Monnnstrooo! Como você pode, Cláudio Fernando?, como você pode ser assim tão... tão imprestável?! Oh, Deus! Como você pode ser assim tão, tão... oh?!...”
E, de supetão, sai da sala aos prantos, batendo a porta atrás de si.
Cláudio Fernando, num flashback em branco e preto, lembra-se da cena anterior, quando do seu encontro com Clarissa Maria... Ele havia repetido as mesmas palavras, como que decoradas frase à frase, letra à letra... palavra por palavra. Serena Alice, certamente, estaria por detrás de uma daquelas portas, de alguma daquelas cortinas.
“Ah!, porca miséria! Mas que droga, Cláudio Fernando!”, recrimina-se, vencido, caindo na poltrona, com a cabeça entre as mãos: “Por que você não teve mais cuidado?”, pergunta-se.
A câmara se afasta e, sobre o cenário, a luz vai sumindo lentamente. Agora, sozinho, na penumbra, Cláudio Fernando está sozinho e, parece, muito decepcionado consigo mesmo. Escuridão.
O amor, meus caros, é uma novela mexicana.


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