41.
Dos fantasmas vivos dos amores mortos
Lorayne fazia “poeminhas”, como ela mesma dizia.
Eu tenho flores nas pontas dos dedos,
e um espinho no coração...
o meu diário de tantos segredos,
é um fantasma preso no porão...
Como um Drummond que faz poemas para outro Carlos, falando de si para si, mas como se não fosse – “Ah, Carlos, não se mate!...” –, também Lorayne, e os trazia para que eu avaliasse. Coisa que ela mesma fazia, argumentando:
“Pois quem não tem segredos e não convive com fantasmas de amores findos?” Abria os braços, erguendo os ombros, para dar ênfase. “Quem, em algum momento da vida, já não teve o coração ferido por um espinho, quando, nas mãos, somente flores era o que trazia? E quem, nas dores do amor, não é meio louco, meio poeta, meio Van Gogh, meio Miró?”
“Para o amor, Lorayne”, respondi, nessa ocasião, enquanto ela acendia o cigarro e enchia o pulmão de fumaça, “temos de aprender sobre a resignação, sobre os riscos e, acima de tudo, não termos medo dos seus tantos fantasmas.”
Ferida e magoada, Lorayne estava sozinha. Disse, enquanto dividíamos uma garrafa de Angelica Zapata, que esperava por um amor que lhe chegaria qual canção de Nina Simone, ou de Violeta Parra, na violência sutil do cotidiano. Para esse amor, compunha, já, os poemas que não seriam lidos por mais ninguém.