quarta-feira, 13 de julho de 2011

35.


Contra os críticos de(nas) arte(s)



Crítico de arte (ou de artes) é aquele que, grosso modo, e à mesma, pouco ou nada faz; mas pensa que faz, criticando os que fazem, realmente. E alguns chegam a ganhar muito bem para “falar muito mal ou o contrário deste ou daquele artista, conforme a tendência dominante do mercado cultural (ou Indústria Cultural) de cada região, estado, pais (cf. Theodor W. Adorno, Ueber Fetischchrakter in der Musik und die Regression des Hoerens [Sobre o caráter fetichista da música e a regressão da audição], ensaio de 1938)*. Ora, a boa arte ou a arte ruim (é caro dizer), nada mais são que adequações ao “gosto” individual e à ideia que, em cada indivíduo, é irremediavelmente subjetiva, sem parâmetro definido por “qualquer” ponto estético-fixo, número áureo, eixo comum, et cetera. Quem pode medir o que é o belo, o feio? Somente Eu, para mim; você, para você. E mesmo assim, por qual parâmetro? Nenhum! Vladimir Mayakovsky, repetindo os antigos poetas, os trágicos gregos, dizia que a arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo.” Sentido que, antes, em Nietzsche, já havia sido defendido naquele que seria o seu primeiro livro escrito, o Die Geburt der Tragödie oder Griechentum und Pessimismus, escrito em 1872. C. S. Lewis, mais tarde, usará a mesma metáfora de Mayakovsky, em The problem of pain (1940), colocando o homem no lugar do mundo, e no lugar da arte, o sofrimento. Enfim, e com as insistentes exceções, parece que os pensadores estão sempre andando por este caminho, e os críticos, por outro. Mas, qual? Eles não sabem, por certo. Novamente se cai na falta de parâmetros ou então se volta ao pouco válido eu acho...”. Não há também, ao menos que eu saiba, um curso universitário de... Crítica da/s Arte/s. E mesmo que houvesse, pelo que se nota na atualidade. Resultado: os mais aptos a tratar sobre arte, não são artistas. Paradoxo? E se um artista crítica negativamente a arte de outro, um terceiro poderá dizer que ele faz isto porque, em sua própria arte, vê-se frustrado. E talvez outro, ainda, aponte-lhe o feito como... falta de ética profissional”, exibicionismo, inveja do (se houver) sucesso alheio. Ironia?
O grande problema dos críticos, problema mesmo, é que alguns acreditam realmente que têm uma leitura abalizada sobre isto ou aquilo, de modo a ser recebida por pessoas de igual verve intelectual, bom gosto não duvidoso, sagacidade apurada; e há, inclusive, grupos que se associam com a finalidade de ganharem força, respaldo popular. Entre os que apreciam as artes – julgando-as divinas ou não, conforme os seus gostos – e os que acreditam portadores dos meios de divinizá-las ou demonizá-las, há diferenças. E a diferença entre uns e outros é que, os críticos, evidentemente, acreditam-se mestres da balança, do jeito extensivo. Quem tem razão é o maestro Artur da Távola (in memoriam), dizendo que, “na história, não se registram os nomes dos críticos, mas dos criticados”. A pergunta que faço, para não ir tão longe: como, porém, criticar os críticos sem criticá-los? Não sei a resposta ao paradoxo gritante; mas penso que, de algum modo, e pelo exposto, mantenho-me a salvo na intransponível individualidade. E, melhor que ser o crítico de arte, é ser o artista.

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* Theodor Wiesengrund-Adorno (1903-1969) nasceu em Frankfurt, Alemanha. Aí fez os seus primeiros estudos, e tempos depois, na universidade da mesma cidade, obteve o título de doutor em Filosofia (1923), com uma tese sobre Edmund Husserl (1959-1938). Em Viena, estudou composição musical com Alban Berg (1885-1935), considerado, pela crítica especializada, um dos maiores expoentes da revolução musical do século XX.


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