60.
De quando a flor tem um nome
Dizem que ele andava apaixonado
e, pelo campo, antes de chegar à casa da moça, colheu as flores que lhe
daria.
Era um dia de sol claro e bom, e
a terra parecia respirar sossegada das guerras, da fome e das tristezas que
assolam os continentes. Tudo estava em seu lugar, como deveria sempre ser.
Ele nem chegou à varanda e ela,
vendo-o, saiu correndo para encontrá-lo, apressada em obedecer aos impulsos do seu
coração enamorado; rindo feliz à luz do dia azul e ao sopro leve de uma brisa primaveril
muito perfumada.
Ele escondeu o ramalhete de
flores atrás de si e esperou que ela lhe alcançasse, hipnotizado com a sua
beleza, olhando-a deslizar sobre a relva respingada de belas-emílias. Ela notou seu
gracejo apaixonado e parou no meio do caminho, para que ele também fosse ao seu
encontro e, enfim, pudessem trocar abraços e beijos, e passear pelo
campo.
Vencido pelo desejo, ele atendeu
à sua solicitação silenciosa, e mais que depressa saiu ao encontro dela, que era a flor mais linda de todas aquelas paragens.
Mas...
... nem ao menos deu sete passos
e, infeliz, sentiu o chão ceder sob seus pés, despencando na ribanceira amolecida
nas águas do rio que ficava entre o bosque e a casa dela. Agarrou-se como pode em
uma raiz protuberante, mas a correnteza o arrastava. Não conseguia largar o ramalhete
de flores que era dela, que correu para ajudá-lo, mas sem nada poder fazer. Aos
prantos, gritou por socorro; mas os homens haviam saído ou para o campo ou para
a cidade, e a sua velha mãe não poderia fazer nada, infelizmente. Ele pediu que
ela agarrasse as flores que ele iria jogar. Assim, dizia, poderia ficar com a mão
livre e, se Deus a ajudasse, sair a salvo dali. Quando tomou impulso
para lançar as flores, coisa que conseguiu, a pequenina raiz em que ele agarra-se partiu.
Com as flores nas mãos, e chorando, ela ouviu quando ele implorou:
– Vergis mein nitcht...
... que, na língua do moço, em
alemão, queria dizer: “não te esqueças de mim”.
Sem conseguir ouvir direito,
pelo barulho das águas e pelo canto feliz dos passarinhos, ela pensou ter ouvido apenas “miosótis”,
e julgou que ele dizia o nome das flores que lhe presenteara. Nunca mais veria
o rosto alegre do seu amado..
* * * * *
E é por isso que até hoje, e
mesmo que a moça não tenha compreendido, o miosótis é conhecido como “não-te-esqueças-de-mim”,
ou “não-me-esqueças”. Além de ser recomendado contra a depressão pós-parto, e
àqueles que tenham perdido o gosto pela vida, ou um ente querido que se foi e que
jamais voltará.