terça-feira, 17 de abril de 2012


58.





Do encontro inusitado



Não dependendo da lógica ou da razão, o amor romântico pode surgir nas horas mais inesperadas, e dos modos mais inusitados. Foi assim com Thiago e Carlos Mateus.
Em um cruzamento na Epitácio, que dá para a Torre, o carro de Thiago foi de encontro ao de Carlos, provocando um pequenino acidente. Thiago ficou muito nervoso:
– A culpa é sua, cara! Tá sabendo, né? – Dizia assim ao sair do carro, falando alto e com o corpo trêmulo.
– Aiii, criatura! Calmaaa! Eu me entrego.
Ele achou estranho esse modo de responder, mas não disse nada além de:
– Meu pai vai me matar! Ai, caralho! Meu pai vai me matar!
– Se somente o amor constrói, porque ele haveria de destruir o objeto do seu amor? – Carlos lhe disse, numa calma que não tinha tamanho.
Thiago, apesar do nervosismo e de tudo o mais, não conseguiu disfarçar o pequenino sorriso, quando perguntou:
– Cara! Que negócio é esse que tu tá usando, hem? Quero também.
Riram risos tímidos. E as poucas pessoas que observavam a cena, curiosas, duvidavam do que viam. “Duas bichas loucas”, talvez pensassem.
O seguro, Carlos dizia, se encarregaria dos trâmites legais da coisa toda. Trocaram telefones para tratarem sobre o ocorrido, no que fosse preciso. Encontraram-se no dia seguinte. Descobriram que era boa a companhia um do outro, e para o outro. Marcaram coisas para depois do depois. Estavam felizes, estranhamente felizes. Trocaram o primeiro beijo durante uma sessão de cinema, no Manaíra Shopping, durante uma cena de Igual a tudo na vida, de Woody Allen. 
* * * * *  
Agora distam três anos do acidente. Estão juntos há dois anos e meio. Dividem um apartamento e uma cama no Bairro dos Estados, e esperam notícias boas para o próximo verão – o resultado negativo do screening do câncer de cólon que, infelizmente, parece que Carlos tem.  



  

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