58.
Do encontro inusitado
Não dependendo da lógica ou da razão, o amor
romântico pode surgir nas horas mais inesperadas, e dos modos mais inusitados.
Foi assim com Thiago e Carlos Mateus.
Em um cruzamento na Epitácio, que dá para a
Torre, o carro de Thiago foi de encontro ao de Carlos, provocando um pequenino
acidente. Thiago ficou muito nervoso:
– A culpa é sua, cara! Tá sabendo, né? – Dizia
assim ao sair do carro, falando alto e com o corpo trêmulo.
– Aiii, criatura! Calmaaa! Eu me entrego.
Ele achou estranho esse modo de responder, mas não
disse nada além de:
– Meu pai vai me matar! Ai, caralho! Meu pai vai me
matar!
– Se somente o amor constrói, porque ele haveria
de destruir o objeto do seu amor? – Carlos lhe disse, numa calma que não tinha
tamanho.
Thiago, apesar do nervosismo e de tudo o mais,
não conseguiu disfarçar o pequenino sorriso, quando perguntou:
– Cara! Que negócio é esse que tu tá usando, hem?
Quero também.
Riram risos tímidos. E as poucas pessoas que observavam
a cena, curiosas, duvidavam do que viam. “Duas bichas loucas”, talvez
pensassem.
O seguro, Carlos dizia, se encarregaria dos
trâmites legais da coisa toda. Trocaram telefones para tratarem sobre o
ocorrido, no que fosse preciso. Encontraram-se no dia seguinte. Descobriram que
era boa a companhia um do outro, e para o outro. Marcaram coisas para depois do
depois. Estavam felizes, estranhamente felizes. Trocaram o primeiro beijo
durante uma sessão de cinema, no Manaíra Shopping, durante uma cena de Igual a tudo na vida, de Woody Allen.
* * * * *
Agora distam três anos do acidente. Estão juntos há
dois anos e meio. Dividem um apartamento e uma cama no Bairro dos Estados, e
esperam notícias boas para o próximo verão – o resultado negativo do screening do câncer de
cólon que, infelizmente, parece que Carlos tem.