De l’amour
Na primeira vez que li Do amor (De l’amour, escrito em 1820 e publicado em 1822), de Stendhal, Fernanda,
uma amiga querida, pensando que se tratava de um romance, perguntou:
– Como é a história?
– Não tem história, Fernandinha – respondi.
– Ué!?
– São textos e análises sobre o amor no
Ocidente, de todas as maneiras que, parece, o autor conseguiu tratar.
– Humm. É tu gosta dele?, concorda com
ele?
– Gostar, gosto. Concordar, não é bem
algo que se concorde ou deixe de concordar, mas...
– Ué!?
– É que Stendhal quase consegue ser mais
platônico que o próprio Platão. Suas teses, divagações, digressões, analogias, metáforas,
anedotas, máximas, mínimas, fragmentos, os conceitos, as notas e todas as
comparações entre as manifestações do amor aqui e acolá, sucumbem sob uma única
e impiedosa constatação que faço a máxima das minhas máximas, contra tudo e
contra todos que, iludidos pela farsa dos idealismos milenares, sublimam as
afecções da alma, romantizando o espírito da corte: ideias fazem amor, pessoas fazem sexo.
– Humm.
E ficou nisso.