66.
Do lugar em que o Outro habita
Hadassa M. é uma
prima querida, que mora em Fortaleza, no Ceará. Veio a João Pessoa em outubro
de 2011, participando do II Congresso Nacional de Educação Ambiental (CNEA), na
UFPB. Encontrei-me com ela na Philipéia, bebendo um cachimbinho (cachaça, mel e
limão) e de papo com amigos e amigas. “Quero te contar uma coisa”, ela havia
dito pelo telefone e, tão logo cheguei, contou-me que estava saindo de mais uma
relação complicada; dizia também de como isso, pouco a pouco, ia minando a sua fé
em, um dia, quem sabe, encontrar alguém que realmente viesse para ficar, e que
ela quisesse que ficasse. Mostrou-me um retrato da moça, que trazia na bolsa.
“É linda, ela.” Falei, segurando a pequenina fotografia em que as duas aparecem
abraçadas, nalgum corredor da UFCE.
– Nós
nunca nos livramos dos retratos dos amores findos, ma chère amie. E mesmo quando eles não ficam aí, espalhados por sobre
os móveis da sala, aprisionando sorrisos e olhares perdidos na mesma direção –
disse, assim entre o poético, a filosofice barata e a tiração de onda.
– Por
que isso, hem Pata? Por quêee...?
– Porque
o amor quer se prender ao tempo, e à eternidade das fotografias e das flores de
plástico... e se prende. Por isso que as coisas não morrem nunca: porque há,
sobre tudo, o tempo... e os mundos em que ficamos, os mundos paralelos.
–
Ahhh, meu amigo! – ela me abraçou, carinhosa e delicada, como sempre.
Pedi
ao Carlos que me servisse uma dose de cachaça, enquanto citava um trecho de
“Cabôca do Ciará”, poema de Zé da Luz, para distraí-la um pouco e mudar o mote
do rojão:
Tú sôis, morena triguêra,
A cabôca mais
facêra
Qui mora no Ciará,
Tú sois um
diabo-de-saia
Qui a minha vida
atrapaia
Sem querer mi
atrapaiá.
Brindamos
às esperanças, as dela, e viramos o copo.