segunda-feira, 14 de maio de 2012


66.






Do lugar em que o Outro habita




Hadassa M. é uma prima querida, que mora em Fortaleza, no Ceará. Veio a João Pessoa em outubro de 2011, participando do II Congresso Nacional de Educação Ambiental (CNEA), na UFPB. Encontrei-me com ela na Philipéia, bebendo um cachimbinho (cachaça, mel e limão) e de papo com amigos e amigas. “Quero te contar uma coisa”, ela havia dito pelo telefone e, tão logo cheguei, contou-me que estava saindo de mais uma relação complicada; dizia também de como isso, pouco a pouco, ia minando a sua fé em, um dia, quem sabe, encontrar alguém que realmente viesse para ficar, e que ela quisesse que ficasse. Mostrou-me um retrato da moça, que trazia na bolsa. “É linda, ela.” Falei, segurando a pequenina fotografia em que as duas aparecem abraçadas, nalgum corredor da UFCE.
– Nós nunca nos livramos dos retratos dos amores findos, ma chère amie. E mesmo quando eles não ficam aí, espalhados por sobre os móveis da sala, aprisionando sorrisos e olhares perdidos na mesma direção – disse, assim entre o poético, a filosofice barata e a tiração de onda.
– Por que isso, hem Pata? Por quêee...?
– Porque o amor quer se prender ao tempo, e à eternidade das fotografias e das flores de plástico... e se prende. Por isso que as coisas não morrem nunca: porque há, sobre tudo, o tempo... e os mundos em que ficamos, os mundos paralelos.
– Ahhh, meu amigo! – ela me abraçou, carinhosa e delicada, como sempre.
Pedi ao Carlos que me servisse uma dose de cachaça, enquanto citava um trecho de “Cabôca do Ciará”, poema de Zé da Luz, para distraí-la um pouco e mudar o mote do rojão:

Tú sôis, morena triguêra,
A cabôca mais facêra
Qui mora no Ciará,
Tú sois um diabo-de-saia
Qui a minha vida atrapaia
Sem querer mi atrapaiá.

Brindamos às esperanças, as dela, e viramos o copo.



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