Essas noções da Vontade/amor/instinto de preservação, mais adiante, serão desenvolvidas por Freud – quando ele trata sobre o inconsciente, por exemplo22. Nas palavras de Roberto Rodríguez Aramayo: “El concepto schopenhaueriano de voluntad es tan sencillo como complejo al mismo tiempo. Es caracterizado como lo radical, la naturaleza o esencia íntima de las cosas, el ser em sí del mundo. Se trata del corazón mismo del universo, del magma que late bajo
Freud
Numa
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22 Abbagnano, por exemplo, ao tratar sobre o inconsciente e a sexualidade, em Freud, afirma que: “É ponto pacífico que a grande descoberta de Freud tenha sido a do inconsciente, isto é, dos fatores psíquicos que não afloram à consciência e por isso permanecem fora do campo atual da consciência, embora atuem às escondidas dentro dele. Ma já em 1869 Eduardo von Hartmann publicara uma Filosofia do inconsciente que teve enorme sucesso na cultura alemã e foi seguida por numerosas obras até os primeiros anos do século vinte. Hartmann (que declarava expressamente depender de Schelling e Schopenhauer) via no inconsciente o princípio absoluto da vida humana em todas as suas manifestações. (ABBAGNANO, Nicola. O inconsciente e a sexualidade (Freud). In: A sabedoria da filosofia. 2. ed. Trad. de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1991. p. 32. (Col. Tempo e Religião).
23 ARAMAYO, Roberto Rodríguez. Estúdio preliminar. In: SCHOPENHAUER, Arthur. Metafísica de las costumbres. Introd. Trad. e notas de Roberto Rodríguez Aramayo. Madrid: 1993. p. XXII-III. (Col. Classicos del Pensamiento). Para a citação de Freud, ver: FREUD, Sigmund. Una dificultad del psicoanálisis. In: Obras completas. Trad. de Luis López-Ballesteros. Madrid: Biblioteca Nueva, 1972-75. v. 7, p. 2436.
24 Na verdade, Schopenhauer já identificara, como vimos (cf. nota nº 2), o eu ao corpo (eu-corpo), e o corpo ao mundo (corpo-mundo), e concluíra, partindo dos sentimentos imediatos deste último, “que a essência íntima de cada coisa é a Vontade”. Assim, em relação ao eu/corpo, “Schopenhauer está partindo da própria subjetividade egótica como os demais filósofos do idealismo alemão, embora lhe imprima dimensão novíssima de tratamento, ao acrescentá-la de sua qualidade corpórea. A inversão que este passo imprimiu ao idealismo não foi sequer percebida por seus contemporâneos, e ainda hoje se coloca a Nietzsche e a Freud como os promotores desta descoberta decisiva para o pensamento. A verdade é que no contexto da crítica de Schopenhauer ao idealismo, seria só a partir desta identificação entre eu-corpo e corpo-mundo, cristalizada na metáfora renascentista do microcosmo, que o escrito filosófico ver-se-ia investido da força iniludível de uma necessidade interior que, a partir daí, lhe marcaria o tom, ou melhor, a forma própria do pensar” (MAIA-FLICKINGER, 1996, p. 541). Schopenhauer, uma geração antes de Darwin e 60 anos antes de Freud ou Nietzsche, foi, de fato, o primeiro a apontar as razões inconscientes e biológicas para o amor.
25 ARAMAYO, 1993, p. XIII.