17.
Teologia e política
Doutrinas teológicas e políticas sempre andaram de mãos dadas, mesmo quando se engalfinhavam, mesmo quando pregavam diferenças berrantes entre este ou aquele paraíso construído, a ser construído: doutrinas. Sistemas, instituições, credos, bandeiras... e no lastro de tudo isso, o medo: substrato da fé, da sua negação. Sim: o medo do inferno, metafísico ou não, sempre foi o saldo negativo das utopias, das doutrinas que prometem algum futuro glorioso - já e ainda não, aqui ou no porvir, futurístico-escatológico. Por esse paraíso além vive-se, já, no inferno, faz-se o sorriso na dor; pelo presente infernal, cria-se o céu: tentativa de escape do trágico que impera no Mundo, que se vê por toda parte. O céu é uma promessa, uma propaganda de ou para... E para o mesmo tanto de fiéis, o mesmo tanto de deuses - e mesmo nas doutrinas monoteístas. De fato: numa determinada fé que um grupo comunga, todos são iguais na diferença posicional (tempo, espaço, intenção), todos são iguais no grande equívoco. Ninguém, em absoluto, vê ou sente o mesmo que outrem. A experiência com o Sagrado é, para cada um, única e incomunicável. O anarquismo e o ateísmo (ou o agnosticismo, que é mais coerente de ser afirmado) são as esquerdas da fé e/ou da razão, e o contrário dá no mesmo. Resumo disso tudo é isto que li, não sei onde: “Deus é verdadeiro para os que têm fé, é falso para os que não têm, é útil para os que governam.”