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A consciência (III)
Schopenhauer dizia que o mundo, sem os cães, seria insuportável. E todo mundo sabe que todo mundo diz que os cães são os melhores amigos dos homens. Schopenhauer tinha uma cadela chamada Atma (Alma do Mundo), que o amava; não como as mulheres, que têm consciência e predileções estetas conforme a natureza lhes supre e ordena. As mulheres, mais que o sossego do amor interesseiro que requer apenas a segurança prometida pelo instinto de sobrevivência (como o dos cães), também exigem mais, cegas à Vontade que lhes aponta, com o engodo romântico do perfeito amor, o melhor reprodutor. Em 1831, quando Schopenhauer estava com seu 43 anos, se apaixonou por Flora Weiss, que mal completara seus 17. Ele convidou-a a um passeio de barco, com o fito de conquistá-la. No passeio, falou-lhe de sua filosofia, e sorriu, e ofereceu uvas à garota. Em seu diário, ela escreveria, pouco depois: “Eu não ia comê-las. Tive nojo, porque haviam estado na mão do velho Schopenhauer. Disfarçadamente, joguei-as na água atrás de mim.” Natureza é competição. Os animais também competem, mas não pensam sobre isso, nem escrevem tratados morais ou compêndios de filosofia e teologia. Se não existe um inferno para os cães, por exemplo, é que isso não é necessário. Sim, meus amigos! Sim, minhas amigas!, o inferno só existe na consciência, ou para ela. Bem-aventurados são os loucos e as bestas, porque dos tais já é o reino dos céus... mesmo que ele não exista.