quinta-feira, 13 de outubro de 2011

56.


Do pós-pós-modernismo (?)


Houve uma vez um mundo em que todos os habitantes humanos ou eram cools ou coletivizados – mesmo os indies e os misantropos. Sim, porque os solitários estão unidos em suas solidões, os desconfiados em suas desconfianças, os antipáticos em suas antipatias, os avessos em suas aversões... todos juntos na separação: porque ninguém é igual e, nisso, e justamente por isso, são obrigados à diferença. Assim, todos eram descolados e pós-modernos, cada qual ao seu modo; todos eram poetas e/ou loucos, cada um ao seu modo; todos eram DJs ou VJs, cada qual como podia; todos pertenciam a algum time de futebol ou alguma outra igreja, melhor e mais verdadeira que aquela outra, dependendo do seu prêmio, da sua dança e/ou ocasião. E toda mocinha bonita pensava que, tirando a roupa ou fodendo gostoso com um desconhecido, enquanto era filmada na produção de algum vídeo fuleiro a ser exibido em qualquer parte do mundo, por algum obscuro site da/na internet, podia exibir o glamoroso título de “modelo”. E ninguém perguntava, ninguém: modelo de quê?, para quê?, por qual referência? Ninguém queria nem saber; que o melhor era viver, colher a sensação. Contra todos os idiotas daquele mundo idiota, Hele, filósofo cínico e bufão – que não se achava nem idiota e nem bufão, como é comum a todos os idiotas e bufões –, escreveu o penoso e intrigante livro de uma frase só, evocando com finíssima ironia e acurada lucidez a certa certeza de um falso Caetano, como a dizer: “Eu tomo uma Coca-cola, ela pensa em refrigerante.” Tristeza, tristeza. Tristeza dos intelectuais, dos doutrinadores, dos ideólogos, dos utopistas, et cetera. E o resto era delírio, barulho e correr atrás do vento.




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