quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

14.


A via mística


Agaton disse a Sócrates que, a quem tem juízo, “poucos sensatos são mais temíveis que uma multidão insensata.” Também o polonês Angelus Silesius, místico, filósofo, poeta e jurista do século XVII, dizia: “Sei que sem mim Deus não pode viver um instante sequer. Se eu for aniquilado, também seu espírito tem de necessariamente extinguir-se”. É preciso de toda a sensatez do mundo para se perguntar: o que é Deus sem mim? E é preciso mais sensatez ainda para se responder: sem mim, de fato, nada realmente precisa ser. Eu sou tudo para mim mesmo, o Outro, ou Deus, é objeto para meu deleite – mesmo que eu e você nem saibamos disso. “Sem mim...” Eis aí a resposta à toda metafísica, e principalmente àquelas distorcidas pelas doutrinas em seus sistemas. “É evidente...” E aí se encerram todas as digressões mais comuns dos teólogos, ortodoxo-fundamentalistas ou moderno-liberais. É evidente que Silesius não tinha essa mesma leitura, e não falava com o sentido que, aqui, damos ao seu texto. Mas, para o nosso propósito, ele se adéqua como nenhum outro. Sim: no começo e no final de tudo, Eu.



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