2.
O sentido das coisas
Passamos a vida toda em busca do sentido das coisas; mas, quem disse que as “coisas” têm algum sentido, ou têm que ter? Outras vezes pensamos que são as coisas que dão, ou que podem dar, algum sentido à vida. De um e de outro modo, nos equivocamos. Se formos sinceros com nós mesmos – e com a nossa consciência –, descobriremos que não há e nem nunca houve sentido algum, e nem precisa haver. Se eu não existo, nada, para mim, existe – e nem mesmo Deus. “Sei que sem mim Deus não pode viver um instante sequer. Se eu for aniquilado, também seu espírito tem de necessariamente extinguir-se”, dizia o místico Angelos Silesius, cheio de razão. A não ser que consideremos o “não-sentido” como já sendo algum, ou a própria vida enquanto unidade reflexivo-individual, moral (nisso, Kierkegaard e Wittgenstein concordam)... O sentido, nesse caso, seria procurar um sentido. Todavia: pensar a vida como um valor moral autônomo (Kant e os antimetafísicos) e ainda assim com uma finalidade (os teólogos cristãos) é, sem rodeios, um paradoxo gritante – e o contrário dá no mesmo. É verdade: o mundo todo é feito desses paradoxos. O sentido só existe, mesmo, naquilo que nós atribuímos funções, predicamos valores... como os metais preciosos, as obras de arte, o dever moral, as ideologias políticas, as doutrinas religiosas, o “amor romântico”, etc. O vazio, o nada, isso será, por fim, sua casa, a sua única e última morada.