quinta-feira, 15 de julho de 2010

Arte e arte contemporânea

1.

Sorry, no art today... O título, a propósito, vem das impressões que tive quando na minha última visita a uma grande exposição da chamada “arte contemporânea”, ou “pós-moderna”. O pós-modernismo, aqui vinculado à arte, é também uma “escola” filosófico-sociológica em que, segundo afirmam alguns “pós-modernos” – a exemplo de Jean-François Lyotard –, se percebe um desencantamento por toda e qualquer estrutura fundante, fundamental. No discurso pós-moderno (ou dos “pós-modernos”), há ainda a presença de uma metanarrativa justaposta, uma meta-história superposta, uma colagem plástica do velho sobre o novo, ou do novo que se serve do velho, revisitando-o em uma linguagem que é, a um só tempo, linguagem de linguagens: nada sólido, definitivo, tudo novo e a inovar-se – mas sem se prender àqueles fundamentos monologais que, num passado não tão remoto, eram procurados com a intenção de que as coisas pudessem ser amarradas, engessadas, paradigmatizadas.

Se, por um lado, é verdade que os velhos fundamentos não desapareceram, por outro, é verdade que eles, hoje, não têm mais o prestígio que um dia tiveram. A história e a linguagem, e mesmo uma verdade às verdades, no discurso do pós-modernismo, caducaram. Não há mais, segundo esse discurso, aquela verdade una, consagrada nas ontologias, nas metafísicas; há, sim, verdades de verdades, mas, mesmo essas, subjetivas, pessoais – como nos sopra Kierkegaard. Na individualidade intersubjetiva do sujeito, a verdade nada mais é do que aquilo que ele precisa que ela seja, segundo os seus momentos e necessidades – e daí a aparição das novas éticas. De modo análogo, não haveria uma arte (a Arte), mas as artes.

2.

É certo que a arte sempre foi múltipla; isso não entra na questão. Mas ela “tinha” – ou buscava ter – um fundamento, visava um fim. Isso, no entanto, não é mais assim – e não digo que tem de ser como era. Talvez isso tudo explique a diversificação das novas artes que, em dados momentos, nos fazem pensar sobre o que é que as caracteriza como “isso” que dizem ser. Acontece que as estruturas ontológicas, antes sólidas, não se mantêm mais na base do novo discurso que assimila o múltiplo. Na arte contemporânea, ou pós-moderna, cumpriu-se aquilo que, por boca de Marx e Engels, no Manifesto comunista (1848), com um outro sentido, é claro, fora vaticinado: “Tudo o que é sólido desmancha no ar”. Essa fragmentação dos fundamentos, relativos à arte, é exatamente o que afirma Liev Tolstoi, respondendo à pergunta: “O que é arte?”, e retirando os contornos da metafísica, da ontologia, do idealismo: “A arte é uma atividade humana que consiste nisto: em uma pessoa conscientemente, por intermédio de certos sinais externos, levar a outras pessoas a sentimentos de que teve experiência e que estas sejam contagiadas por tais sentimentos e deles também tenham experiência. A arte não é, como os metafísicos dizem, a manifestação de alguma idéia misteriosa de belo ou de Deus; não é, como os psicólogos estéticos dizem, um jogo que serve para descarregar o excesso de energia acumulada; não é apenas a expressão das emoções de uma pessoa através de sinais externos; não é a produção de objetos que agradem; e acima de tudo, não é prazer; mas é um meio de união entre pessoas, unindo-as nos mesmo sentimentos, indispensável à vida e ao progresso em direção ao bem-estar dos indivíduos e da humanidade.”

Não digo que Tolstoi tenha razão; mas a citação, certamente, serve de exemplo a esse rompimento das idéias mais antigas de uma arte vinculada, fundamentada. Se ela se mantém ligada a alguma “coisa”, aí, e à humanidade humana, e ao sentimento – e não há dúvida de que tais termos e tais condições sejam, ao extremo, subjetivos. E novamente ficamos soltos no ar.

Continua...

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