31.
Do desejo que
se aloja na raiz de toda a paixão humana...
Talvez nenhuma outra doutrina, mais que a do budismo1, tenha combatido tanto o Eu, e o
Desejo, e a tirania dos sentidos. “O caminho do budismo é o caminho da
aniquilação do Eu e, portanto, do mundo dos fenômenos.2”
Mas, posso pensar de um modo que parece
simplista: não há a aniquilação do Eu sem que, também, haja a vontade de que
ele seja aniquilado... no próprio Eu. Um contrassenso? Sim. O Eu, naturalmente,
não deseja o que é contrário a si, sem que julgue isso, embora cegamente, algum
bem. O Eu que deseja escapar do sofrimento, enfrentando seus agentes em direção
ao Nirvana, precisa estar a caminho. Mas, que caminho? O caminho do Buda3. É como se pode ler no Visuddhi Magga:
Só há sofrimento, não
há sofredor.
Não há agente, só há
o ato.
O Nirvana é, mas não
aquele ou aquela que o
procura.
O caminho existe, mas não
aquele ou aquela que nele anda.4
Mais que o indivíduo, que nada é, que nada deve ser
– ao menos aí, em uma clara relação à doutrina brâmane do Eu, ou ātman –, é o sofrimento (duḥkha), e a ação (karmanta), e
o Nirvana e seu caminho (aṣṭapāda). Consta que um asceta itinerante chamado
Vaccha, diante do Buda, apresentou-lhe as teses e antíteses do que, segundo
ele, era a doutrina do Abençoado. O Buda não somente as nega como, para a perplexidade
de Vaccha, afirma que era “livre de qualquer teoria”5.
Isso, assim negado, não requer uma teoria? Sim, e o Buda tem uma. Ela se
revela na pergunta que ele mesmo faz ao errante Vacchagotta: “Para onde vai um fogo que se apagou?
Para leste, oeste, sul ou norte?6” Aqui,
um parêntese. O fogo, no imaginário popular, também está relacionado às afecções
da nossa alma, e ao amor erótico7. Dizemos:
“passou o fogo da paixão”, “o fogo apagou”, etc. E daí o trechinho de
“Almanaque”, na música do Chico: “Me responde, por favor / Pra onde vai o meu
amor / Quando o amor acaba?8” E daí
este poeminha, no mesmo espírito:
Quando
o amor acaba
O
quanto de nós vai junto,
Em
pele, unhas, cabelos...?
Ah!,
& os livros devolvidos
&
os discos do Bob Dylan...
E
onde estará, agora,
A
presença que enchia a sala
O
corpo sobre a cama suada
&
o cheiro que ficava...?
E
o que vê, agora,
O
rosto que enchia o espelho
De
rímel, batom & sombra...?
Ah!,
repara a porta aberta...
&
a casa vazia, esperando
Olhando
a rua silenciosa
De
um dia como hoje
–
a tarde de um domingo
Ah!,
responda, responda:
Para
onde é que vai o amor
Depois
que o amor acaba?
Como a chama que se vai, também o fogo das paixões eróticas. A
analogia é simples, mas pratiquíssima ao que pretendo, voltando à pergunta do
Buda que Vaccha confessa ignorar a resposta, permitindo que o Abençoado compare
o arhat (aquele que atingiu o
Nirvana) ao fogo extinto. Qualquer que fosse a afirmativa referente à sua
existência não seria mais que uma simples conjectura. Claro que, aí, se
aceitamos a analogia e a doutrina do Iluminado, caímos também no seu idealismo,
e na fé confiante. Foi assim que Schopenhauer permaneceu no idealismo, ao ponto
de afirmar que “o verdadeiro filósofo deve ser um idealista”9. Estava errado, miseravelmente. Amo
Schopenhauer, mas amo ainda mais a minha
verdade. E “o ‘eu’, por trás de
nós oculto”, como dizia Emily Dickinson, ainda “é muito mais assustador.”10
Uma das passagens mais famosas da biografia do Buda é
aquela em que ele é tentado pelas filhas do demônio Māra – representação
do seu Eu oculto, assustador; um tipo de “lado negro”, um demônio interior, a
Morte e Diabo conjugados, o Senhor do Ego e da Ilusão. Depois de atingir a
iluminação, o Buda permaneceu sob a árvore Bodhi11, com as
pernas cruzadas, imóvel por sete dias. “Encontrei a libertação”, ele pensou. Na
quarta semana, mergulhado em profunda meditação, ainda sob a bo, Māra – inconsolável com a sua derrota – vai a ao
seu encontro, dizendo-lhe:
“Bem-aventurado
és tu, por permaneceres e por conheceres o caminho para a libertação. Apague a
lâmpada, extingue a sua chama e entre no Nirvana, oh, Bem-Aventurado! É a
hora.”
Ao que o Buda
lhe respondeu:
“Não, Māra! Eu
não extinguirei a chama, nem entrarei no Nirvana. Devo primeiro conquistar
muitos discípulos, e eles, por sua vez, devem ganhar outros sob a minha doutrina.
Através da palavra e da ação, devo silenciar meus adversários. Não, Māra! Eu
não entrarei no Nirvana até que o Buda seja glorificado em todo o mundo, e até
que a sua lei benéfica seja reconhecida.”
E
Māra o deixou, cabisbaixo. Parecia ouvir as vozes divinas zombando
de seu fracasso:
“Você foi
derrotado, Māra”, diziam, “e permanece envolto em pensamentos, como uma velha
garça-real. Você é impotente, Māra!, como um velho elefante atolado num
pântano. Pensou que era um herói, e está mais fraco que um homem doente
abandonado na floresta. De que adiantaram as suas palavras insolentes? Foram
tão fúteis quanto o murmúrio dos corvos.”
Nisso, Māra
pegou um galho seco e, com ele, desenhava figuras na areia. Suas três filhas,
Rati, Arati e Trishna viram-lhe assim, aflito, e ficaram abatidas.
“Pai”, Rati
falou, “por que você está tão melancólico?”
“Fui derrotado
por um homem santo”, ele respondeu. “Ele resistiu à minha força e à minha
astúcia”.
“Pai”, disse
Trishna, “nós somos belas e os nossos modos são sedutores”.
“Iremos a esse
homem”, Arati atalhou, “e o prenderemos com os grilhões do amor, e o traremos até
você, humilde e temente.”
E foram ao Buda. Diante dele, dançavam e cantavam:
“Eis a primavera, amigo, a mais linda das estações. As
árvores estão em floração; devemos estar felizes. Seus olhos são belos, brilham
com uma luz adorável, e você carrega as marcas da onipresença. Olhe-nos: somos
feitas para dar prazer e felicidade tanto aos humanos quanto aos deuses. Levanta-te
e te junta a nós, amigo; aproveite ao máximo a tua juventude brilhante; afaste os
pensamentos sérios da tua mente. Vê nossos cabelos, quão sedosos!, são as
flores que emprestam sua fragrância à sua maciez. Vê nossos olhos; neles estão
a doçura do amor. Vê nossos lábios; eles são quentes como a fruta amadurecida ao
sol. Vê nossos seios, rijos e bem torneados. Deslizamos com a graça majestosa
dos cisnes; sabemos canções que encantam e dão prazer, e quando dançamos, os
corações aceleram e os pulsos latejam. Vem, amigo!, não nos despreze. Somente
um tolo, de fato, jogaria fora todo esse tesouro. Olha-nos, nobre Senhor: somos
as suas escravas.”
O Buda, no entanto, permaneceu imóvel às vozes sedutoras. Antes,
franziu a testa às lindas donzelas e elas foram transformadas em bruxas.
Desesperadas, elas retornaram a Māra.
“Pai”, Rati gritou, “vê o que ele fez à nossa juventude e
beleza.”
“O amor nunca o ferirá”, disse Trishna. “Ele foi capaz de
resistir aos nossos encantos.”
“Oh”, suspirou Arati, “quão cruel foi a nossa punição!”
“Pai”, Trishna implorou, “cura-nos desta horrível velhice e
feiura.”
“Devolva-nos a juventude!” Rati gritava.
“Devolva-nos a beleza!” Arati implorava.
“Minhas filhas, minhas pobres filhas”, Māra
disse à Arati, “compadeço-me de vocês. Sim, ele derrotou o amor. Ele está para
além do meu poder, e estou triste por isso. Vocês suplicam que eu lhes devolva
a juventude e a beleza... mas, como eu poderia? Somente o Buda poderá desfazer
o que o Buda fez. Voltem a ele; admitam que vocês foram culpadas; digam-lhe que
estão arrependidas, e talvez ele devolva seus encantos.”
E elas voltaram à presença do Abençoado.
“Bem-aventurado”, imploraram, “perdoe-nos as nossas
ofensas. Nossos olhos estavam cegos à luz, e fomos tolas. Perdoai-nos!”
“Sim, vocês foram tolas”, o Abençoado respondeu. “Tentaram
destruir uma montanha com as unhas; tentaram morder o ferro com os dentes... Vocês,
porém, reconhecem as suas ofensas, e isso já é sinal de sabedoria. Donzelas, ide
em paz. Eu vos perdoo!”
E imediatamente as três filhas do Diabo deixaram a sua
presença, ainda mais jovens e mais belas do que antes.12
Amor, aí, é apelação erótica... e sofrimento. Mas a douta
ignorância13 tem um prêmio, após o
erro confessado, na voz do arrependido. É o que não aparece em Vaccha – no trecho que utilizei. Não há
“erro”, apenas equívoco. É preciso luz. Longe de ser um mal interpretado
“pessimismo”, a Doutrina do Abençoado é uma não afirmação, antes de tudo... mas
não pessimista, como querem alguns intérpretes14.
Dizer que “tudo é sofrimento” significa, também, saber o que seja o não-sofrer,
ou o prazer. A consciência (do Eu e
suas consequências) não vem antes da Ignorância e da Informação Inata – alguns
reflexos do platonismo, coincidentemente, são muito perceptíveis. A Ignorância produz
a Informação Inata; a Informação Inata, a Consciência; a Consciência, os Nomes-e-formas;
os Nomes-e-Formas, os Seis Órgãos dos Sentidos; os Seis Órgãos dos Sentidos, o
Contato; o Contato, a Sensação; a Sensação, o Desejo; o Desejo, o Apego; o
Apego, a Existência; a Existência, o Nascimento; o Nascimento, a Velhice e a
Morte. Está tudo ligado: a Sensação, o Desejo, o Apego... a Vida e a Morte.
Contra a Morte, a Velhice e tudo aquilo que lhes precede, o remédio é fazer
cessar a Ignorância, que está no início de tudo: no Eu que, portador da
Informação Inata, porta e produz a Consciência do Eu15 – como está na doutrina do Buda,
referente ao Dharma16: “Se o
desejo, que se aloja na raiz de toda a paixão humana, puder ser removido, aí
então, morrerá esta paixão e desaparecerá, consequentemente, todo o sofrimento
humano.17” Também no cristianismo, quanto menos for o cristão – o seu Eu,
naturalmente –, tanto maior será a presença do Cristo e do Espírito, nele18. O budismo “apresenta elementos comuns
com os theioi andres19 dos gregos e com as biografias míticas
mais tardias de outros fundadores de religiões, como Jesus, Mani, etc.20” Diminuir o Eu, dominar as paixões,
sufocar o desejo... idealismos, delírios febris alimentados pela fé no Outro,
que pode ser tanto o “não-Eu” quanto Aquele que é maior e melhor que que EU, que
é de onde venho, como “coisa causada”. Ah!, as minhas projeções – como na afirmação lúcida e desencantada de
Feuerbach21. Já mostrei que a
própria propaganda de tais modelos doutrinários é, em si, apelo ao Eu que pode
compreendê-la – do contrário, que sentido teria? –, e decidir e desejar... isto
ou aquilo.
Quando Siddhārtha – agora Buda –
retorna à Shakya e à casa de seu pai (o rei Shuddhodana), depois de oito anos, Yashodhara,
sua esposa, orienta a Rahula, seu filho, que lhe peça a sua herança, antes que
o Shakyamuni22 parta novamente, em uma
jornada de pregações e ensinos que duraria quarenta anos. O Buda, porém, afirma
que tem algo maior e melhor para o seu filho: a sua Doutrina. O menino torna-se
monge.
Não havendo o Eu, o laço político-tribal ou familiar – e o próprio
nome do filho do Shakyamuni, Rahula23,
revela isso –, não há também a identidade, nenhuma. Não haveria razão de o Buda
retornar à sua casa, aos seus. Para o bem ou para o mal, é o Eu quem age,
consciente ou não, por loucura ou por paixão, na ação e na inação, na fala e na
escrita... mesmo naquela dos livros “santos”. Também a regra da piedade cristã
ensina que não se deve, a título de estilo e ética, sobrevalorar o Eu, que fala
ou escreve – “eu assim”, “eu assado” –; mas, ao contrário, mortificá-lo,
reduzi-lo a nada ou, como em um
discurso solene, soterrá-lo em uma terça no plural: “Nós estamos aqui hoje...”
Sim, porque a carne (os mEus apetites) milita contra o espírito, mEu “homem
interior”, mEu “Eu interior”.24
E é por isso que, no início do Walden, Thoreau anota:
A
maioria dos livros omite o eu ou a
primeira pessoa; aqui ele será mantido; em relação egocentrismo, esta é a
principal diferença. Geralmente não lembramos que, afinal, é sempre a primeira
pessoa que está falando. Eu não falaria tanto sobre mim mesmo se existisse
alguma outra pessoa que eu conhecesse tão bem.25
Thoreau, o “pai do anarquismo”
e rebelde ao estilo hipócrita dos seus contemporâneos, quer sobrepor os modelos
e a “regra da piedade”25. Ora,
não há quem conheçamos melhor do que nós mesmos, embora, para nós mesmos,
sejamos o nosso maior enigma. No entanto – e juntamente com os conceitos de
Stirner, Marx, Feuerbach, Freud e outros que tenho mostrado seguidamente –,
essa parece ser a “perspectiva” mais plausível, e certamente a mais mundana. A
verdade pode muito bem nada ter a ver com... religiões. E, afinal, o que não é mundano?
Verdade, mentira, candura, leviandade, justiça... Está tudo em mim, em minha
mente e em minhas ações, para o meu deus ou para meu companheiro, pai, irmão, amigo,
mulher... meu céu e meu inferno. Aqui, em minha mente, como em uma catedral,
sou santo ou herege... mas a doutrina é minha, sempre minha. Sim, pois depende
da minha fé, da minha hermenêutica, da minha vida e dos lugares e coisas e
pessoas que me fazem ser como eu sou, agora, enquanto penso sobre tudo isso.
Em tudo e sobre tudo, o amour-propre
– ou meu instinto de preservação – é o que me mantém, no desejo ou no desejo de
não ter desejo. Não há saída, e tanto a liberdade quanto a culpa por sua
ausência, etc., é minha.
1
Talvez fosse prudente falar em “budismos”, dado às linhas em que ele, hoje, se
apresenta. Neste sentido, e como não é a minha intenção fazer um “tratado”
sobre velhas e novas escolas – e para não ser desonesto com o leitor –,
recomendo o verbete “Budismo”, em: ELIADE, Mircea; COULIANO, Ioan P. Dicionário das religiões. São Paulo:
Martins Fontes, 2003. p. 67-85. Ver ainda: ARVON, Henry. O budismo. Lisboa: Publicações Europa-América Ltda., [s.d.]. p.
44-5. (Col. Saber); NIWANO, Nikkyo. Shakyamuni
Budda: uma biografia narrativa do Buda histórico. São Paulo: Cidade Nova,
1987; e: LEVENSON, Claude B. Budismo.
Porto Alegre: L&PM, 2009. (Col. L&PM Pocket, 758: Enciclopédia). São
literaturas de fácil acesso (e leitura) em português.
2
ELIADE; COULIANO, 2003, p. 69.
3
“Atentai a este fato: Buda não é um corpo físico, é a Iluminação. O corpo
físico perece, mas a Iluminação subsistirá para sempre na verdade do Dharma e
na prática do Dharma. Aquele que apenas vê o meu corpo”, diz o Buda, “não me vê
realmente. Somente aquele que aceita meu ensinamento consegue me ver.” (DN 16,
sutra Mahaparinibbana. In: A DOUTRINA de
Buda. 3. ed. Minato-ku, Tokyo, Japan: Bukkyo Dendo Kyokai, 1984. p. 13. [§
5]).
4
Visuddhi Magga, 16.
5
Aqui, é preciso deixar claro que a lógica de Vaccha, simplista, tem a seguinte
estrutura: se A não é verdadeiro, então não-A, é. É contra a horizontalidade
rasteira de tal raciocínio que o Buda se impõe.
6
ELIADE; COULIANO, 2003. p. 70.
7
E no famoso soneto de Camões: “O amor é um fogo que arde sem se ver...” etc.
Cf. CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos. In: _____. Camões: verso e prosa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 32.
(Col. Leitura).
8
BUARQUE, Chico. Almanaque. In: _____. Almanaque.
São Paulo: Abril, 2010. 1 CD player. Faixa 5. (Col. Chico Buarque, 10).
9
Citado em: BARAQUIN, Noëlla; LAFFITTE, Jacqueline. Arthur Shopenhauer. In:
_____. Dicionário Universitário dos
Filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 276.
10
DICKINSON, Emily. Poemas escolhidos. Porto
Alegre: L&PM, 2007. p. 57. (Col. L&PM Pocket, 436).
11 Ou bo,
em Bodh Gaya, no nordeste da Índia. Por causa da Bodhi é que, segundo consta, o nome de Siddhārtha Gautama é mudado para Buda, que, tanto em páli como em
sânscrito, significa “Iluminado”, “Desperto”.
12
Com pequeninas modificações, adaptações e correções, utilizo a obra de: HEROLD,
A. Ferdinand. The life of
Buddha: according to the legends of Ancient India. Whitefish,
Montana - EUA: Kessinger
Publishing Company, 2007. p. 123-5.
13
Utilizo o conceito, criado por Nicolau de Cusa (1401-64), livremente, e para o
sentido que aparece no texto, simples e definido. Para a sua utilização mais
“acadêmica”, e conforme o seu autor, ver: CUSA, Nicolau de. A douta ignorância. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2002. (Col. Filosofia, 148).
14
Cf. ELIADE; COULIANO, 2003. p. 69.
15 Cf. ELIADE;
COULIANO, 2003. p. 71.
16 Isto é: a
verdadeira Doutrina, os preceitos éticos do budismo.
17 Vinaya, Mahāvagga 1-6 e SN
56-11-12, sutra Dharmmacakrapravartana. In: A
DOUTRINA de Buda. 3. ed. Minato-ku, Tokyo, Japan: Bukkyo Dendo Kyokai,
1984. p. 38-9. [§ 1]).
18 No evangelho se são João, por
exemplo, João Batista diz aos seus discípulos remanescentes, que reclamam de
seus companheiros, agora, estarem seguindo ao Cristo: “Convém que ele [o
Cristo] cresça e que eu diminua. O que vem de lá de cima [o Cristo], é superior
a todos. O que vem da terra [ele, João], é da terra, e fala da terra. O que vem
do céu, é superior a todos.” (João,
4, 30-31, Vulgata). E o apóstolo Paulo, em Colossenses
3, 5: “Fazei, pois, morrer o que em vós pertence à terra: devassidão, impureza,
paixão, mau desejo e a tal cupidez que é uma idolatria.” (TEB). Não faltam
referências desse tipo, por todo o Novo Testamento, principalmente. E nas obras
de todos os moralistas cristãos – que são milhares – é tema esgotado, lugar dos
mais comuns.
19 Isto é: “Homens
deuses”, como Hercules, etc.
20 ELIADE; COULIANO, 2003. p. 68.
Neste sentido, ver em especial os artigos “Akhenaton, o Iluminador”, “Moisés,
nosso Mestre”, “Jesus de Nazaré”, “Mani” e “Buda”, em: BRUNNER-TRAUT, Emma.
(Org.). Os fundadores das grandes
religiões. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
21 Isto é: “A religião é a cisão do homem consigo mesmo: ele estabelece Deus como um
ser anteposto a ele, Deus não é o que o homem é, o homem não é o que Deus é.
Deus é o ser infinito, o homem, finito; Deus é perfeito, o homem imperfeito;
Deus é eterno, o homem transitório [etc.]. O que deve ser demonstrado é então
que esta oposição, que esta cisão entre Deus e homem, com a qual se inicia a
religião, é uma cisão do homem com a sua própria essência.” (FEUERBACH, Ludwig.
A essência do cristianismo. 2. ed.
Campinas, SP: Papirus, 1997. p. 77).
22 Literalmente: “Sábio (muni) dos Shakyas”.
23 “Na época em que sua esposa,
Yashodhara, deu luz a seu filho,
Siddhartha estava num jardim, fora do palácio. Shuddhodana, exultante pela
notícia do nascimento, imediatamente enviou um mensageiro para informar o
príncipe. Assim que recebeu a mensagem, Siddhartha murmurou para si mesmo: ‘Ah,
nasceu Rahula!’ ‘Rahula’ significa obstáculo, ou laço. Tem-se sugerido que
quando Siddhartha, inconscientemente, disse ‘Rahula’ queria dizer que, justo
quando estava tomando a decisão de renunciar o mundo, surgiu um laço para bloquear
seu caminho.” (NIWANO, 1987, p. 22).
24 Como em 2 Coríntios 10, 3, no desiderium
intimum do Apóstolo: “De fato [sic], embora vivendo na carne, não
militamos segundo a carne.” (Vulgata). E em Romanos
7, 22: “Pois eu me comprazo na lei de Deus, enquanto homem interior, mas em
meus membros descubro outra lei que combate contra a lei que a minha
inteligência ratifica; ela faz de mim o prisioneiro da lei do pecado que está
em meus membros. Infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que pertence à
morte?” (TEB). No Novo Testamento, principalmente nas cartas do apóstolo Paulo,
referências dessa natureza são bem comuns.
25 THOREAU, H.
D. Walden. Porto Alegre: L&PM,
2011. p. 17. (Col. L&PM Pocket, 884).
25 Mesmo uma
leitura desatenta de A desobediência
civil, de 1848, mostraria isso. Cf. THOREAU, Henry David. A desobediência civil. 7. ed. Porto
Alegre: L&PM, 2009. (Col. L&PM Pocket, 17).